sábado, 30 de abril de 2011

.Apenas belos versos.

.Porque, a poesia alimenta a alma, alimenta a vida, alimenta o coração, e nada como um belo poema para adoçar o final de semana. Sejam alimentados com esses belos versos de Drummond ( extraído do livro Claro Enigma, pág. 41)

Amar



"Que pode uma criatura senão,

senão entre criaturas, amar?

amar e esquecer,

amar e malamar,

amar, desamar, amar?

sempre, e até de olhos vidrados, amar?



Que pode, pergunto, o ser amoroso

sozinho, em rotação universal, senão

rodar também, e amar?

amar o que o mar traz à praia,

o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,

é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?



Amar solenemente as palmas do deserto,

o que é entrega ou adoração expectante,

e amar o inóspito, o áspero,

um vaso sem flor, um chão de ferro,

e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.



Este o nosso destino: amor sem conta,

distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,

doação ilimitada a uma completa ingratidão,

e na concha vazia do amor a procura medrosa,

paciente, de mais e mais amor.



Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa

amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita."

(Carlos Drummond de Andrade)


  Apenas, amem e deixem-se amar.

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